terça-feira, 6 de outubro de 2009
O Som da Terça
Tive certeza ali que ,realmente, a praça é do povo, de todos nós.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
A menina e o passarinho
Vivia numa vizinhança calma, velhinhos nas calçadas e cachorros a descansar nas sombras das árvores. A casa que morava dava para os fundos de um pequeno bosque. Da janela do seu quarto uma árvore ficava tão perto que era como se debruçasse sobre o parapeito.
Todo o dia ia até a janela e passava horas a contemplar o bosque com todas suas árvores e flores. Mas o que chamava mesmo atenção da menina eram os passarinhos que voavam sobre as folhas e pousavam nos galhos a cantar. Aquela música a encantava, acarinhava, embalava seus pensamentos.
Adorava tanto a música que decidiu que teria um passarinho para si. Tentou diversas armadilhas. Caixas, arame e comida para atrair. Mas no final nenhum passarinho se mostrou tolo o bastante para cair naquela armadilha infantil de sedução. Depois de algumas tentativas desistiu e contentou-se a apreciar a melodia que penetrava pela janela.
Alguns dias se passaram e ela nem mais se lembrava da infeliz idéia de captura. Então como que para provar isso, eis que surge um passarinho em sua janela. Quando o avistou parou no meio do quarto e o observou. Era pequeno, ares de esperto, penas acinzentadas. Ensaiou um passo a frente, mas ao ver que ele a observava, parou. Ela continuava a olhá-lo com curiosidade assim como também era observada da mesma forma. Criou coragem e deu o passo. Ele partiu.
Ficou decepcionada. Não acreditava que tinha perdido a chance de se aproximar dele. Se aproximar para que? Não sabia... Mas queria vê-lo de novo.
No outro dia, como quem não quer nada, ele apareceu novamente. A menina estacou mais uma vez no meio do quarto. Mas dessa vez não se atreveu a se mover, ficou apenas ali parada olhando para aquele pequeno ser em sua janela. Vendo que ela não avançava, começou a se sentir mais seguro. Deu alguns passos para direita, esquerda, explorando o local. Quando encontrou um lugar confortável, inflou o peito e cantou. A menina que tudo observava, ficou maravilhada e resistia com todas suas forças para não dar mais um passo.
Quando a noite chegou e o pássaro se foi, a menina se pôs a pensar no pequenino que cantara e a encantara. A incerteza de saber se ele voltaria a torturava muito mais do que gostaria.
Mas ele apareceu. E continuou a fazer suas aparições todos os dias. A menina se deixava seduzir pela sua música e o seu jeito faceiro. E mesmo sem perceber a cada dia se aproximava mais dele.
Passou a esperá-lo na janela. Ele não mais a estranhava. Pousava em sua mão, comia os agrados que ela lhe oferecia, trazia galhos para lhe enfeitar e continuava a cantar. A menina não tinha mais aquelas idéias de ter um passarinho só para ela, mas continuava a sofrer com a possibilidade dele não voltar.
Um dia, enquanto o esperava pensava no quanto o amava. Seu amor era tão grande que pensou em prendê-lo. Mas não em qualquer gaiola, seria um lugar ótimo, grande, arejado, onde não sentiria necessidade de mais nada além da presença dela. Mas quando o viu chegar voando pensou melhor. Amava tanto aquele passarinho, que não poderia prendê-lo nunca. E nem havia necessidade disso. Ele pertencia a ela, assim como ela pertencia a ele. Não com o sentimento de posse, de ser dono ou dona um do outro, mas se pertenciam pelo amor que os unia.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Os chinelos...
Devido a um leve vento a cortina do seu quarto se moveu e ele pode ver meias estendidas do lado de fora. Apesar do calor rotineiro que fazia sentiu que o dia seria diferente. Afinal, não precisaria usar o paletó e muito menos a gravata surrada. Nada de carteira, documentos, caneta ou chaves. Hoje seria apenas o maço de cigarro, a caixa de fósforos e o seu jornal.
Foi para próximo da mesa e sentou em uma das cadeiras, olhou ao redor e viu xícara, pires, talheres amontoados... o local estava uma desordem mas, não se importou, logo se sentou na poltrona e pegou o cinzeiro que estava próximo ao telefone, agenda e alguns papéis, começou a tragar um cigarro olhando para um vaso de plantas que estava à sua frente. Não quis mais ler o jornal, olhou novamente para a bancada onde havia pegado o cinzeiro e se lembrou dos emails que deveria ler ainda hoje, com a caixa de entrada e de saída superlotadas . Sentiu fome e quando se levantou para ir a cozinha se deparou com aquela mulher carregando uma bandeja e uma xícara de café. Ela estava naturalmente linda o que o levou a se recordar da noite anterior. Não pensou mais em emails, relatórios, cheques ou qualquer coisa do tipo. Naquele momento ele só gostaria de reviver o que aconteceu minutos antes do instante em que abriu os olhos e viu os seus chinelos ao lado da cama.
Ele...
O que eu não imaginava era que ao sentar à mesa para o café, aquela manhã se tornaria sem sabores, sem texturas e principalmente sem ele... não por mais alguns dias mas, para sempre ou pelo menos, por muito tempo. Fiquei sabendo que iria morar em Conquista com o intuito de amenizar a ausencia que o meu tio deixara. Não tive tempo nem de concordar. Minha mudança fora imposta.
Corri para o quarto. Como contar para ele que eu não voltaria? Resolvi escrever uma carta, adorava escrever e era a melhor forma para me expressar, desde essa época já sonhava em fazer jornalismo. As frases saíam tão ambíguas quanto aquilo que eu sentia no momento. Antes de terminar o que escrevia o telefone tocou, ouvi sua voz e voltei a chorar e como por osmose já fora transferido o que aconteceria em alguns dias.
Do outro lado da linha, silêncio... tão incômodo e tão amargo que transcorria todo o corpo. Milhões de coisas se passavam em meu pensamento, eu não queria mais pensar! Queria estar com ele... naqueles momentos tão bobos e ingênuos que agora faziam tanto significado.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
O salto, o pé e o homem enjaquetado
Demorou a fechar a porta da casa antiga que sempre enganchava. Depois de xingar Deus, o mundo e a situação financeira atual que não lhe possibilitava pagar um taxi, pôs-se a andar fazendo barulho.
Uma rua, duas, três... e já não aguentava mais. Não por estar andando. Estava e muito acostumada a gastar solas de sapato. No entanto, salto e principalmente salto alto não faziam parte de seu look cotidiano.
Deu mais alguns passos. Resolveu parar. Seu tornozelo estava em carne viva. Mais a frente viu uma placa. Esfregou os olhos como que para se certificar que não era miragem.
Farmácia. Foi o que lhe encheu os olhos. Juntou forças e mancando chegou ao oásis. Antes de conseguir pedir o band aid, um homem de jaqueta lhe atravessou e fez o pedido pela grade de segurança que protegia a porta.
O farmaceutico já entregava o pedido quando o homem perguntou se havia troco para vinte. A garota do band aid revirou os olhos de dor e assustou-se com a pergunta do farmaceutico:
- Ele deixou a moto ligada? Você viu a placa?
- Não... nem vi nada...
- Aquele rapaz tem assaltado toda a vinzinhança com esse golpe.Pede troco,pega e vai embora. Já fez isso comigo , mas agora não consegue mais me enganar. Gostaria de ter visto a placa da moto...
- Moço me dá um band aid
Ele prontamente pegou o curativo e prosseguiu a conversa sobre os assaltos enquanto ela colava o adesivo no tornozelo.
- E você cuidado viu?
- Tá.
Saiu com sua compra de quarenta centavos colada no pé continuando a mancar. Entre um toc toc e outro do salto pensou que ficaria muito feliz se o ladrão enjaquetado lhe levasse o maldito sapato.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Infeliz Cotidiano.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
O banho de mar.
Começou a planejar em casa com alguns parentes, chamou o namorado, juntaram os trapos e partiram em direção ao litoral. O caminho até o lugar em que iam ficar hospedados já mostrou logo de início as maravilhas que estavam reservadas para eles. Água-de-côco, sombra, rede, cervejinha, sol, protetor solar, mariscos...não havia nada melhor.
O dia de passeio começou logo cedo e foi aquele corre-corre típico de quem não quer perder um minuto. Cadê meu bíquine? Alguém viu minha toalha? Todo mundo já tomou café-da-manhã? Estão todos prontos? Enfim, tudo certo no carro, partiram..
Na praia, aquela alegria!
A menina tirou o short, a camiseta, os óculos escuros e, como se tivesse sido chamada por uma força mística, correu em direção à água, dando aquele mergulho gostoso. Era como se o mar pudesse lhe "lavar a alma". As energias ruins acumuladas ao longo do tempo, com atitudes e pensamentos pessimistas, eram levadas pelas àguas a cada onda.
Entre mergulhos e banhos de sol, lá veio aquele momento também esperado: "Chefia! Pode nos trazer uma cervejinha, catadinho siri e uma dúzia de lambretas?" As emoções da menina davam piruetas em seu corpo.
Só se sentia assim duas vezes ao ano, se não uma: quando ia à praia.
Quando o sol começou a ir embora, era a hora de todos se despedirem. Não adiantou choro, nem lamento. Deu a hora, tinham que ir.
Em casa, depois de um banho quente demorado, a menina jantou, escovou os dentes e foi se deitar. Em sua oração antes de dormir, apenas agradeceu por tudo.
No litoral não se sentia adulta. A criança não parecia ter crescido.
Era a pureza da lembrança de quando era menor? Era o mar? Era a felicidade sentida de uma maneira diferente de quando está longe dali? Não soube a resposta. Mas eu sei: ali, como todas às vezes, ela se permitiu viver.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Promessas de segunda
Estava deitada ali no sofá de qualquer jeito, acabara de tirar o uniforme e ficara apenas de calcinha e sutiã. Odiava trabalhar em feriados! Tinha tantas coisas ainda para fazer mas, ficou ali, inerte. Não queria fazer nada, não queria se comprometer com exatamente nada.... não desejava lembrar de suas juras e principalmente de seus débitos com elas.
Todas suas promessas eram assim: Ah... na próxima segunda! Exceto no fim de ano, já que nem sempre a virada coincide com esse célebre dia. Agora ela pensa: Quantas desses contratos com o seu próprio ego foram cumpridos? Emagrecer, começar a malhar, se dedicar mais aos estudos, ser mais organizada, dormir menos, dormir mais, enfim, para quê sobrecarregar tanto a segunda-feira? Por que não a quarta? A sexta? Ou talvez o domingo! Não é ele o primeiro dia da semana?
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Mais um na multidão
Estava esperando o ônibus de manhã assim como eu. Uma das poucas coisas boas de usar transporte coletivo, além de todo lenga lenga ambiental, é observar as pessoas. E devidamente protegida, é claro. Penso que uma das principais funções dos óculos escuros é exatamente essa: transportar você para uma espécie de "bolha" onde se pode observar a tudo e ainda se sentir invisível. Meio infantil, sei. Mas não deixa de ter um pouco de verdade.
Mas voltando ao caso... ônibus... óculos... o menino. Bem, lá estava ele com aquela cara de quem espera ônibus. A mesma daquela que todo mundo faz no elevador. Tipo "cara de paisagem" até aí nem tem nada demais. Na verdade, pensando agora, acho que o caso inteiro não tem nada demais. Só um menino com cara de paisagem que esperava o ônibus como todo mundo. Mas o que me chamou atenção nele foi o fato de achar que ele também tinha uma bolha. Só que ele tinha esquecido seu óculos em casa. Ou talvez tenha quebrado. Ou nem tenha. Sei lá. Só sei que eu estava invisível e ele não.
Pode ser que ele estivesse desejando meus óculos para ficar oculto na multidão também. Ou pode ser que eu esteja ficando doida, imaginando alguma relação entre um menino desconhecido, bolhas, óculos escuros, ônibus, ficar invisível, logo pela manhã. Ou não.
O que sei é que esses lugares com muitas pessoas fazem a gente divagar demais. Tenho que parar de tomar café e ficar com mais sono pela manhã.