Sílvio acordou pela manhã já em cima do horário.Calçou os chinelos,usou o sanitário e acionou a descarga.Seguiu até a pia,abriu a torneira e a água fria lavou-lhe as mãos castigadas pelo tempo.Colocou o creme dental na escova,porém preferiu se barbear antes.Assim,poderia abrir a torneira só mais uma vez:as contas de água estavam vindo bastante altas e seu orçamento estava limitado.Secou-se com a toalha que há dias não lavava, penteou os cabelos e vestiu-se adequadamente para mais um dia de trabalho.Antes de sair do quarto,averigou se havia pegado tudo:carteira,caneta,chaves,lenço,relógio,maço de cigarros.Como ele não gostava de se sentir desatualizado,principalmente em relação a Economia Mundial,o jornal o "aguardava" pronto para ser lido na mesa do café-da-manhã.Lembrou-se dos afazeres do dia,os escreveu em um guardanapo que estava ao seu alcance e partiu com a pasta e os quadros debaixo do braço.Dentro do carro,acendeu um cigarro para não se estressar com o trânsito congestionado daquele horário.
No antigo escritório, a correria de todo dia: o telefone que não pára de tocar;as contas que não param de chegar;um monte de pápeis que o aguardam para serem lidos antes de serem assinados;quadros que ainda precisam ser vendidos;a velha secretaria Maria com seu bloco de notas que não dá uma pausa entre uma frase e outra.Quando ela começou a trabalhar ali,era uma bela moça com um bonito par de pernas.Hoje,uma velha que não vê a hora de acabar o serviço e encerrar o expediente. As paredes,que há tempos precisavam de uma pintura,ainda guarda lembranças de uma época que tudo eram "flores" e os negócios iam de "vento e polpa".Como sentiam saudades desse passado!
Sílvio olhou ao seu redor.Respirou fundo.Acendeu outro cigarro.Maria resolvera calar-se e serviu-lhe café.Pegou a xícara,deixou a bandeja de lado.O dia seria,mais uma vez,longo.Seus cigarros,sua companhia.
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