segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A menina e o passarinho

Vivia numa vizinhança calma, velhinhos nas calçadas e cachorros a descansar nas sombras das árvores. A casa que morava dava para os fundos de um pequeno bosque. Da janela do seu quarto uma árvore ficava tão perto que era como se debruçasse sobre o parapeito.

Todo o dia ia até a janela e passava horas a contemplar o bosque com todas suas árvores e flores. Mas o que chamava mesmo atenção da menina eram os passarinhos que voavam sobre as folhas e pousavam nos galhos a cantar. Aquela música a encantava, acarinhava, embalava seus pensamentos.

Adorava tanto a música que decidiu que teria um passarinho para si. Tentou diversas armadilhas. Caixas, arame e comida para atrair. Mas no final nenhum passarinho se mostrou tolo o bastante para cair naquela armadilha infantil de sedução. Depois de algumas tentativas desistiu e contentou-se a apreciar a melodia que penetrava pela janela.

Alguns dias se passaram e ela nem mais se lembrava da infeliz idéia de captura. Então como que para provar isso, eis que surge um passarinho em sua janela. Quando o avistou parou no meio do quarto e o observou. Era pequeno, ares de esperto, penas acinzentadas. Ensaiou um passo a frente, mas ao ver que ele a observava, parou. Ela continuava a olhá-lo com curiosidade assim como também era observada da mesma forma. Criou coragem e deu o passo. Ele partiu.

Ficou decepcionada. Não acreditava que tinha perdido a chance de se aproximar dele. Se aproximar para que? Não sabia... Mas queria vê-lo de novo.

No outro dia, como quem não quer nada, ele apareceu novamente. A menina estacou mais uma vez no meio do quarto. Mas dessa vez não se atreveu a se mover, ficou apenas ali parada olhando para aquele pequeno ser em sua janela. Vendo que ela não avançava, começou a se sentir mais seguro. Deu alguns passos para direita, esquerda, explorando o local. Quando encontrou um lugar confortável, inflou o peito e cantou. A menina que tudo observava, ficou maravilhada e resistia com todas suas forças para não dar mais um passo.

Quando a noite chegou e o pássaro se foi, a menina se pôs a pensar no pequenino que cantara e a encantara. A incerteza de saber se ele voltaria a torturava muito mais do que gostaria.

Mas ele apareceu. E continuou a fazer suas aparições todos os dias. A menina se deixava seduzir pela sua música e o seu jeito faceiro. E mesmo sem perceber a cada dia se aproximava mais dele.

Passou a esperá-lo na janela. Ele não mais a estranhava. Pousava em sua mão, comia os agrados que ela lhe oferecia, trazia galhos para lhe enfeitar e continuava a cantar. A menina não tinha mais aquelas idéias de ter um passarinho só para ela, mas continuava a sofrer com a possibilidade dele não voltar.

Um dia, enquanto o esperava pensava no quanto o amava. Seu amor era tão grande que pensou em prendê-lo. Mas não em qualquer gaiola, seria um lugar ótimo, grande, arejado, onde não sentiria necessidade de mais nada além da presença dela. Mas quando o viu chegar voando pensou melhor. Amava tanto aquele passarinho, que não poderia prendê-lo nunca. E nem havia necessidade disso. Ele pertencia a ela, assim como ela pertencia a ele. Não com o sentimento de posse, de ser dono ou dona um do outro, mas se pertenciam pelo amor que os unia.

Um comentário:

  1. Que os nossos sentimentos uns pelos outros possam ser como o dessa menina e do passarinho: sem posses...apenas unidos pelo amor!!
    a autora conseguiu falar de algo batido de uma forma bonita...leve!!por vezes durante a leitura do texto nos colocamos em alguma das situações...

    :)

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